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21/07/15

Papa Francisco pede atenção com crescimento desordenado das cidades e auxílio às periferias

Solange Souza/FNP Papa Francisco pede apoio às periferias das cidades Papa Francisco pede apoio às periferias das cidades

Após o pronunciamento de prefeitos de várias partes do mundo, incluindo o presidente da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), Marcio Lacerda, prefeito de Belo Horizonte (MG), o papa Francisco encerrou, no fim da tarde desta terça-feira (21) no Vaticano, (meio dia horário de Brasília), o workshop “Escravidão moderna e mudanças climáticas: o compromisso das cidades”. Na ocasião, os prefeitos assinaram um documento se comprometendo em dar atenção ao enfrentamento dos desafios das mudanças climáticas induzidas pelo homem, da pobreza extrema e da exclusão social, incluindo o tráfico de seres humanos, no contexto do desenvolvimento sustentável.

O Papa falou sobre o desenvolvimento das cidades e os flagelos causados por esse crescimento, como a ocupação das áreas periféricas pela população mais vulnerável. “O homem abandonou o campo na busca de dias melhores nas cidades e os subúrbios das metrópoles cresceram rapidamente. Os países podem fazer discursos na Organização das Nações Unidas (ONU), mas são as cidades que representam as periferias”, disse Francisco.

O Pontífice pediu aos prefeitos que combatam a exploração sexual, o tráfico humano, aliado ao equilíbrio do meio ambiente. “Não podemos separar o cuidado do meio ambiente do cuidado com a humanidade. O cuidado com o meio ambiente é um ato social”, disse.

De acordo com o papa Francisco, a expectativa é que a 21ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 21), que acontecerá em dezembro deste ano, em Paris (França), tenha resultados concretos. "Tenho muito esperança que em Paris se chegue a um acordo fundamental, mas para isso é preciso que a ONU se envolva, especialmente na questão do tráfico de seres humanos", finalizou.

Prefeitos - Os governantes locais classificaram o dia como histórico. Segundo o prefeito Marcio Lacerda a maior expectativa é que daqui para frente as cidades sejam reconhecidas como protagonistas nessas discussões. “Isso eu penso que seria o avanço mais importante. Por outro lado, nesse documento, nós falamos dos esforços que se faz no Brasil em relação a questão da sustentabilidade, da redução da pobreza e do papel dos prefeitos e das cidades nessa luta. Falamos também das maiores entidades, a nível mundial, de cidades, que existem e que precisam estar presentes. Lembramos inclusive que na Rio + 20, em 2012, os prefeitos levaram ao presidente da ONU essa reivindicação de maior presença nas discussões”, destacou em seu discurso.

Já o 2º secretário da FNP e prefeito de Salvador (BA), ACM Neto, destacou o papel assumido pelos prefeitos na busca pela sustentabilidade global. “No evento de hoje foi fundamental o compromisso que os prefeitos das maiores cidades do Brasil assumiram com a sustentabilidade, com a defesa do meio ambiente, com a preservação da nossa natureza, mas, acima de tudo, com práticas de inclusão social e de respeito aos direitos humanos. A Encíclica é uma convocação a tudo isso. O Papa teve a iniciativa, como um líder mundial, de convidar líderes de todos os cantos do mundo para estarem ao lado dele nesse momento. Se por um lado o papa Francisco tem esse apelo global, por outro, as práticas públicas acontecem nas cidades. É ali que no dia a dia de fato a gente pode transformar a vida da sociedade, por isso é fundamental essa integração geral dos prefeitos”, frisou.

Para o prefeito de Porto Alegre (RS) e vice-presidente de Relações Institucionais da FNP, José Fortunati destacou o significado do encontro para os prefeitos brasileiros.

“O encontro com os prefeitos com o Papa foi de um significado muito importante não somente para os próprios prefeitos, que pela primeira vez são convidados numa audiência formal, onde uma Encíclica foi amplamente debatida, mas especialmente pelo significado da própria Encíclica no que diz respeito a vida nas cidades. O papa Francisco deixou muito claro que os gestores públicos municipais tem uma tarefa fundamental para realmente tentar mudar a chamada ecologia humana, de um lado, que implique na sustentabilidade ambiental, mas que não deixe de levar em consideração as questões sociais. Acho que é esta a grande lição que o Papa nos deu e esse compromisso que assinamos aqui vai significar certamente uma nova qualidade de nossas relações com as nossas cidades”.

O Prefeito de Curitiba (PR) e vice-presidente de Urbanismo e Licenciamento da FNP, Gustavo Fruet elencou três pontos da fala do papa Francisco. “É um fato inédito o Vaticano estar realizando um evento com prefeitos. Isso significa que é mais uma instituição de importância mundial que coloca na agenda local um assunto a ser tratado de dimensão mundial. Segundo, uma revelação de uma Papa urbanista, que estabelece uma agenda ecológica, social, ambiental. Uma visão muito crítica, a idolatria à tecnocracia, uma visão muito clara contra as novas formas de escravidão e com relação ao custo social, os passivos ambientais que a humanidade vai criando. E terceiro, destacar que uma tentativa de tirar da retórica e trabalhar na periferia e localmente. Para nós do Brasil foi muito importante que a cada dia se dá um protagonismo aos municípios, a cada dia se entende a pressão e o aumento da demanda sobre as contas municipais e a necessidade de se rever a relação e a redistribuição de competências e principalmente de receitas, destacando que as soluções locais têm demonstrado uma resposta muito mais rápida e eficiente para a população”.

E o prefeito de Goiânia (GO) e vice-presidente Estadual (Goiás), Paulo Garcia, a importância de se preservar hoje para garantir para as próximas gerações.

“O que o papa Francisco propõe na sua Encíclica é na verdade algo em pequena monta, não tendo jamais a pretensão de ter a compreensão tão ampla da conjuntura mundial que o Papa tem, mas que na nossa gestão local, em Goiânia, nós propusemos o nosso plano de governo com desenvolvimento sustentável que não significa só a abordagem da vertente ambiental, que é um dos tripés de sustentação do Desenvolvimento Sustentável, mas, principalmente, a promoção da qualidade de vida das nossas comunidades locais, das nossas comunidades urbanas. Que as pessoas que vivem na nossa cidade tenham oportunidade de alcançar seus sonhos e seus desejos, e que as futuras gerações tenham um ambiente mais fraterno, justo socialmente, democraticamente transparente”.

Redator: Rodrigo EneasEditor: Paula Aguiar
Última modificação em Terça, 21 de Julho de 2015, 16:26